Seu nome não é o seu transtorno alimentar
- Carol Avileis
- 18 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
Qual seu nome? Quem você é? Essa é a forma que a gente se identifica. O que acontece quando você começa a se identificar com a doença que vocês tem? Ela começa a fazer parte de quem você é. Mas ela não é você. Ela é um estado que você está mas vai sair logo e pra sempre.
E você? Já se identificou com seu estado?

O que é nominalização?
Esse é um termo muito comum na Programação Neurolinguística (PNL), que se refere à transformação de um processo em algo estático, em um nome. Dessa forma, a doença, que é um processo, vira um nome para mim. Toda doença é um processo que possui um tempo, um desenrolar temporal. Nesse sentido, toda doença, como a anorexia nervosa, é dinâmica. Ao lhe darmos um nome, tendemos a encarar a anorexia como uma coisa real, existente por si mesma e estática, paralisada.

Isso fica ainda mais agravado quando eu me autodenomino com o nome do transtorno alimentar: sou anoréxica, bulímica, compulsiva, etc. Se sou eu, então a doença vira uma característica minha, parte da minha identidade, e, muitas vezes, da minha personalidade. Eu e o meu transtorno alimentar viramos um só, como um bloco, existentes por nós mesmos.
Mas você não é o seu transtorno.

O problema do apelido
Algo ainda pior costuma acontecer no casos daquelas pessoas que, com seu transtorno alimentar, se apegam à doença e não querem sair dela. Acham que a doença é boa, ajuda a manter o corpo magro, aceitável. Ou, no caso dos compulsivos, é quem garante afeto e aconchego. Aí a doença vira um amigo ou uma amiga ao doente.

Inclusive, no caso da anorexia, ela é apelidada ANA, e, no caso da bulimia, ela é apelidada MIA. Isso tudo começou porque os programas de busca e as redes sociais começaram a controlar no seu algoritmo as buscas e publicações com essas palavras, na busca de evitar que grupos pró-anorexia e pró-bulimia se espalhassem pelas redes. Nesses grupos, as pessoas, apegadas à sua doenças como estilo de vida, davam dicas para enganar a fome, manter a doença em segredo e emagrecer sem serem percebidas ou notadas, além de trocarem idéias sobre medicamentos para emagrecer ou para se livrarem de compulsões alimentares.

Com o passar do tempo utilizando essa nominalização como apelido, os adolescentes e jovens começam a tratar a doença como um amigo próximo, que entende sua luta, versus amigos e parentes que, ou estão completamente alienados dessa batalha, ou não compreendem suas obsessões.

Aceitando a doença para se livrar dela
Algo mágico acontece quando você entende que precisa de ajuda, está doente, e seu corpo está perdendo a saúde com seu comportamento obssessivo-compulsivo. Nesse momento, você sabe que a doença não é um estilo de vida, e que vai te levar a morte, ou deixar graves sequelas por toda sua vida. Nesse momento você quebra o poder da nominalização e se dissocia da doença.
Ela é um comportamento com diversas vertentes, desde componentes de vício psicológico até componentes obsessivos-compulsivos. O tratamento deve ser feito com acompanhamento psiquiátrico e psicoterápico especializado, além de nutricionista quando for o caso de subnutrição.
O fato é que, uma vez que você consiga se tratar e deixe o comportamento maléfico, você não é mais anoréxica, bulímica ou compulsiva. A doença não é parte da sua vida, e você pode se desligar desse nome.

Preciso resolver meus traumas para melhorar?
Não! Todos nós sofremos no passado diversas situações, lutas e perdas que nos marcaram. Dificilmente algum de nós teve a vida perfeita, a infância perfeita. Você não precisa se livrar de todas as mágoas, traumas, fobias, ansiedades, pesadelos, baixa de autoestima, etc., para melhorar do seu transtorno alimentar. A vida vai continuar tendo problemas no futuro, mas agora você vai aprender a lidar com elas, a encontrar os recursos dentro de você mesma para lidar e seguir com sua vida, livre de comportamentos destrutivos. Por isso é tão importante o atendimento com um psicoterapeuta especializado, que compreenda a doença e tenha empatia com você.

Acredite: se você quiser, você consegue sair dessa. Você tem potencial de autorealização e todos os recursos necessários para lidar com as questões da sua jornada, sem recorrer mais a comportamentos que te fazem mal. Decida que, se for pra ter um nome daqui pra frente, esse nome será: Liberdade!

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