Bulimia Nervosa
A dupla compulsão - purgação que traz sofrimento
Vou te contar uma história bem comum. Talvez ela seja a sua ou de uma pessoa perto de você.
Depois de uma dieta restritiva, você começa a perceber que começam a acontecer episódios onde você não tem nenhum controle sobre o que come, ou quanto come. Quando você vê, comeu uma quantidade enorme de comida (geralmente lanches e doces) em um tempo pequeno, e está passando mal. Sua barriga dói, parece que vai explodir. Aí você cai em si, imagina o quanto vai engordar depois disso tudo! Aí toma a decisão de colocar tudo pra fora e fugir dessa consequência no corpo. Afinal, amanhã você volta a comer normal e tudo bem.
Mas isso começa a se repetir, uma vez por semana, depois vai aumentando a frequência. Você não quer admitir, mas está com um transtorno alimentar chamado bulimia nervosa. E ninguém sabe, porque você não engorda, nem emagrece consideravelmente. Tudo parece normal como antes pra quem olha de fora. Mas você está em sofrimento.
A Bulimia Nervosa é um transtorno alimentar que foi incluído desde 1980 no compêndio psiquiátrico DSM-5. É bastante perigoso e tem risco de morte.
A bulimia é caracterizada por um ciclo de compulsão alimentar e comportamento compensatório, que pode envolver vômitos, laxantes e diuréticos, exercícios físicos exaustivos, jejuns e dietas restritivas, que são usados para compensar o comportamento compulsivo anterior.
Os ciclos recorrentes de compulsão e purgação da bulimia podem afetar todo o sistema digestivo e levar a desequilíbrios eletrolíticos e químicos no corpo, afetando o coração e outras funções importantes dos órgãos.
O corpo geralmente é resiliente em lidar com o estresse de comportamentos desordenados, e os exames clínicos podem até parecer perfeitos, mesmo quando alguém corre alto risco de morte. Desequilíbrios eletrolíticos podem matar sem aviso prévio, porque podem provocar parada cardíaca. É muito importante entender as várias maneiras pelas quais os transtornos alimentares afetam o seu corpo!
Características para diagnóstico de Bulimia
Conheça os critérios de diagnóstico!
Os critérios para diagnósticos são descritos pelo compêndio médico psiquiátrico americano chamado DSM, que está na versão 5. Você precisa conhecer bem esse diagnóstico, porque existe muita confusão mesmo entre os médicos em discernir um transtorno do outro.
De acordo com o DSM-5, os critérios oficiais de diagnóstico para bulimia nervosa são:
1. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes itens:
Comer, em um período discreto de tempo (por exemplo, dentro de um período de 2 horas), uma quantidade de comida que é definitivamente maior do que a maioria das pessoas comeria durante um período de tempo semelhante e em circunstâncias semelhantes.
Uma sensação de falta de controle sobre a alimentação durante o episódio (por exemplo, uma sensação de que não se pode parar de comer ou controlar o que ou quanto se come).
2. Comportamento compensatório inapropriado recorrente para evitar ganho de peso, como vômito auto-induzido, uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos, jejum ou exercício excessivo.
A compulsão alimentar e comportamentos compensatórios inadequados ocorrem, em média, pelo menos uma vez por semana, durante três meses.
3. A auto-avaliação é indevidamente influenciada pela forma e peso do corpo.
4. O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa. O diagnóstico de bulimia nervosa e anorexia nervosa são excludentes (não se pode ter os dois ao mesmo tempo). Por isso, o critério de peso é estabelecido para diferenciar a anorexia nervosa purgativa da bulimia nervosa. Se você tiver o IMC acima de 17, e se enquandra nos comportamentos acima pelo menos nos últimos 6 meses, então seu diagnóstico é bulimia nervosa. Se o seu peso dividido pela altura ao quadrado (fórmula de cálculo do IMC) for menor ou igual a 17, nesse caso você deve ser diagnostiada com anorexia nervosa purgativa.
Conheça os sinais emocionais e comportamentais da Bulimia
Quanto antes for tratado, maiores as suas chances de sair dessa
Geralmente, comportamentos e atitudes indicativos de que a perda de peso, a dieta e o controle da comida estão se tornando preocupações prioritárias para a pessoa;
Evidências de compulsão alimentar, incluindo desaparecimento de grandes quantidades de alimentos em curtos períodos de tempo ou muitos invólucros e recipientes vazios, indicando o consumo de grandes quantidades de comida na casa;
Evidências de comportamentos purgativos, incluindo frequentes viagens ao banheiro durante ou após as refeições, sinais ou cheiros de vômito, presença de embalagens de laxantes ou diuréticos;
A pessoa parece desconfortável comer perto de outras pessoas;
Desenvolve rituais alimentares (por exemplo, come apenas um alimento ou grupo de alimentos específico (por exemplo, condimentos), mastigação excessiva, não permite que os alimentos se toquem;
Ignora refeições ou toma pequenas porções de comida em refeições maiores (como almoço e jantar);
Desaparece depois de comer, geralmente no banheiro;
Qualquer nova prática com dietas restritivas ou da moda, incluindo o corte de grupos alimentares inteiros (sem açúcar, carboidratos, laticínios, vegetarianismo/ veganismo);
Medo de comer em público ou com outras pessoas;
Rouba ou acumula alimentos em lugares estranhos;
Bebe quantidades excessivas de água ou bebidas não calóricas;
Usa quantidades excessivas de enxaguatório bucal, balas e chiclete;
Esconde o corpo com roupas folgadas;
Mantém uma rotina de exercícios excessivo e rígido (apesar do clima, fadiga, doença ou lesão) devido à necessidade de "queimar" calorias;
Mostra inchaço incomum nas bochechas ou na área da mandíbula;
Possui calos nas costas das mãos e articulações de vômitos auto-induzidos;
Os dentes estão descoloridos, manchados;
Cria agendas de estilo de vida ou rituais para reservar tempo para sessões de compulsão e purga;
Se ausenta de atividades sociais com amigos e sua rotina anterior;
Parece inchado pela retenção de líquidos;
Faz dietas frequentes;
Mostra extrema preocupação com o peso e a forma do corpo;
Verifica frequentemente o seu corpo no espelho para detectar falhas na aparência;
Tem episódios recorrentes secretos de compulsão alimentar (comer em um período discreto de tempo uma quantidade de comida muito maior do que a maioria das pessoas comeria em circunstâncias semelhantes), além de sentir falta de controle sobre a capacidade de parar de comer;
Pratica algum comportamento compensatório após uma compulsão (por exemplo, vômito auto-induzido, abuso de laxantes, pílulas dietéticas e / ou diuréticos, exercício excessivo, jejum);
Mudanças extremas de humor.
Conheça os sinais físicos da Bulimia
A lista é extensa, conheça!
Flutuações de peso consideráveis, tanto para cima quanto para baixo;
O peso corporal está tipicamente dentro da faixa de peso normal, mas pode estar acima do peso;
Cãibras no estômago, outras queixas gastrointestinais inespecíficas (constipação, refluxo ácido, etc.);
Dificuldades de concentração;
Resultados dos exames clínicos anormais (anemia, baixos níveis de tireóide e hormônios, baixo potássio, baixa contagem de células sanguíneas, ritmo cardíaco lento);
Tontura;
Desmaio / síncope;
Sente frio o tempo todo;
Problemas de sono;
Cortes e calosidades na parte superior das articulações dos dedos (resultado da indução de vômito);
Problemas dentários, como erosão do esmalte, cáries e sensibilidade dentária;
Pele seca;
Unhas secas e quebradiças;
Inchaço ao redor da área das glândulas salivares;
Pelos finos no corpo;
Queda de cabelo, cabelos secos e quebradiços (lanugo);
Fraqueza muscular;
Pele amarela (no contexto de comer grandes quantidades de cenoura);
Mãos e pés frios ou inchaço dos pés;
Irregularidades menstruais - falta de menstruação ou apenas menstruação durante uso de contraceptivos hormonais (esse período não é considerado "verdadeiro");
Má cicatrização de feridas;
Funcionamento imunológico prejudicado;
Muitas pessoas com bulimia nervosa também enfrentam outras questões psiquiatricas ao mesmo tempo, como:
Auto-mutilação (corte e outras formas de auto-mutilação sem intenção suicida);
Abuso de substâncias psicoativas;
Impulsividade (comportamentos sexuais de risco, furtos em lojas, etc.);
Diabulimia (uso indevido intencional de insulina para diabetes tipo 1).
