O quer você quer dizer com isso?
- Carol Avileis
- 6 de dez. de 2019
- 2 min de leitura
Uma das piores coisas que podemos passar quando em consulta com um terapeuta é ter a impressão que não conseguimos passar a mensagem da forma como ela foi formulada na nossa cabeça. O terapeuta parece não nos compreender completamente, e parece tirar conclusões sobre nós que não são totalmente de acordo com o que nós mesmos entendemos.
Isso acontece porque o seu terapeuta também é uma pessoa que tem seus próprios conflitos e experiências na vida. Quando o terapeuta não é bem preparado e não faz um tratamento constante dentro de um ambiente terapêutico para si próprio, ele reflete no paciente seus próprios conflitos, ao invés de estar totalmente dedicado a entender os conflitos pela óptica do paciente.

Alfred Korzybski (1879-1950), um engenheiro, cientista, matemático e filósofo polonês, explicou muito bem esse processo através da sua teoria de semântica geral. Ele, que falava fluentemente polonês, russo, alemão, francês e, posteriormente, inglês, pode verificar através de suas observações que os seres humanos são limitados pela estrutura do seu sistema nervoso e pelas estruturas das línguas que fala. Dessa forma, nós, como humanos, só podemos experimentar o mundo através de representações abstratas e simbólicas, e tomamos emprestado de nossas experiências com os símbolos os significados para o nosso mundo. Ele chamou esse conjunto de símbolos de mapa, que é específico e individual para cada ser humano. Daí ele publicou uma das frases mais faladas dentro da PNL (programação neurolinguística), que acabou por popularizando o trabalho de Korzybski: " O mapa não é o território."
O que ele traz com essa frase maravilhosa é simplesmente o fato da minha representação simbólica ser a minha forma única de ver, simbolicamente, a vida, as emoções e os acontecimentos. E essa representação, que obrigatoriamente é diferente da representação do analista, não reflete o território em si, ou seja, a realidade. Sabendo disso, o terapeuta precisa deixar que o paciente descreva seu mapa de forma ampla, usando toda a estrutura de linguagem necessária, para que o analista entenda realmente o território que está sendo representado por aquele mapa.
Por exemplo, vamos avaliar a seguinte situação. Uma menina de 15 anos anda na rua se dirigindo à escola, com mais duas amigas. Um trabalhador da construção civil olha as três meninas e faz um gracejo com elas. Para as duas amigas, é um motivo de satisfação ver como sua beleza é apreciada pelo homem. Para a menina, nosso sujeito principal, é um motivo de angústia e medo. Ela sofreu abuso de um homem que prestava serviço pro seu pai em casa, quando tinha apenas 6 anos.
Perceba que a mesma situação tem dois significados completamente diferentes para as mesmas meninas, da mesma idade, no mesmo local, ouvindo a mesma coisa. Cada uma delas interpreta a situação pelo seu próprio mapa, pela estrutura da sua realidade conhecida.
Estamos preocupadas em entender você de acordo com seu mapa, e nos preocupamos em deixar que você mesmo nos mostre a sua realidade através dos seus olhos. :-)
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