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O que faz com que eu tenha compulsão alimentar e outra pessoa não?

Você pesquisou aqui e descobriu que tem compulsão alimentar.

E agora? Muitas são as perguntas que aparecem nesse momento. Parece loucura pensar que se perde totalmente o controle e não se consegue parar de comer. Parece uma desculpa, parece falta de força de vontade, parece preguiça, ou ate gula, para os mais devotos. E, pesquisando aqui nesse site, você descobre que isso não é loucura, é mais comum do que se pensa, e tem nome: Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica, mais conhecido como compulsão alimentar. Esse transtorno alimentar atinge 30% da população com a chamada obesidade grau II e III, e muitas pessoas que sofrem com compulsão alimentar não estão ainda nesse nível de obesidade, mas temem um dia se encaminhar para lá.



Uma grande pergunta que fica é: por que eu? Por que outras pessoas vivem e comem normalmente e eu não consigo, e tenho essas crises assustadoras? Esse artigo busca responder um pouco essa pergunta e talvez trazer pra você algumas respostas que podem te impulsionar a buscar o tratamento. A compulsão alimentar tem recuperação sim, você pode sair dessa.

A primeira coisa que você precisa saber, é que a origem da compulsão alimentar é multifatorial, ou seja, é determinada por uma diversidade de fatores que interagem entre sim de modo relativamente complexo para manter - e, sem tratamento - perpetuar a doença. Esses fatores são geralmente classificados em fatores predisponentes, fatores precipitantes e fatores mantenedores da compulsão alimentar. Vamos passar por cada um deles?



Fatores predisponentes (fatores de risco)

São aqueles que aumentam a probabilidade do aparecimento da compulsão alimentar, mas não são absolutamente suficientes para que a compulsão apareça. Eles são classificados em 3 grupos: individual, familiar e sociocultural.

Fatores individuais

  1. Pessoas que tem outras doenças psiquiátricas, como transtornos de ansiedade, fobia social, pânico e transtornos do tipo evitativo em geral, além de depressão e transtorno bipolar, têm maior chance de apresentar compulsão alimentar.

  2. A tendência à obesidade, associada à maior tendência a se fazer dietas restritivas e à pressão social para emagrecer são fatores de risco do tipo somático para compulsão alimentar.

  3. Diversos estudos sugerem que experiências sexuais adversas podem ser fatores de risco importantes para compulsão alimentar. Essas experiências envolvem, mas não se limitam a, estupro, abuso sexual e constrangimento sexual de alguma forma, principalmente se eles ocorrem antes dos 21 anos de idade.

Fatores na família e hereditários

São fatores de risco envolvendo a agregação familiar: a insatisfação corporal da mãe, a internalização do ideal de magreza, o comportamento de fazer dieta, maior massa corporal da mãe e do pai aumentam a chance de aparecimento de problemas alimentares na infância, e que podem se tornar persistentes no futuro.

Fatores socioculturais

O ideal de beleza feminina centrado na magreza, veiculado por mídias sociais, reforçado pelas séries e filmes disponibilizados em massa na cultura ocidental estão associados ao aparecimento de compulsão alimentar, em especial, nas mulheres. Esse ideal de beleza é reforçado pelo papel assumido pelas mães nesse processo. Se a opinião das mães com relação aos seus filhos for de muita preocupação com a aparência, peso e forma corporal, forem críticas e incentivadoras de adotar dietas restritivas, as chances de seus filhos apresentarem compulsão alimentar aumenta bastante.

Um estudo conclui que a pressão para perder peso exercida pela mãe é o principal fator preditivo de insatisfação corporal e do engajamento em estratégias para modificar o corpo em adolescentes de ambos os sexos.

Fatores precipitantes (o que causou a doença)

O troféu do principal fator que causa a compulsão alimentar vai para... a dieta para emagrecer! Pessoas que fazem dieta tem 18 vezes mais risco de sofrerem de um transtorno alimentar que uma pessoa que não fez dieta. Tem muita gente que faz dieta, e não fica doente, certo? Mas a dieta para emagrecer, associada aos fatores de risco que já descrevemos favorece o aparecimento do transtorno. Restrição alimentar por si só já favorece o aparecimento de compulsões alimentares, por motivos explicados biológica e evolutivamente.

Outra causa muito encontrada para o desencadeamento das crises de compulsão alimentar são eventos estressores, que causam desorganização da vida ou uma ameaça à integridade física, como doença, gravidez, abuso sexual e físico. Esses eventos, associados a um ou mais fatores de risco, podem ser o estopim para que a compulsão alimentar entre e se instale na vida da pessoa.

Fatores mantenedores (por que eu continuo com compulsão alimentar)

O ciclo vicioso causado pela compulsão alimentar inclui a influência de alterações fisiológicas, metabólicas e psicológicas, que tendem a perpetuar o transtorno. Na maioria das vezes, os fatores que mantém o problema da compulsão alimentar são diferentes daqueles que a desencadearam inicialmente.

O metabolismo dos carboidratos tem um impacto significante com as crises de compulsão alimentar. Observa-se um aumento da glicemia de jejum no dia seguinte ao episódio compulsivo, além de um aumento ainda maior da resposta de insulina, justificando possivelmente a dificuldade de se estabelecer um balanço energético adequado em pacientes com compulsão alimentar.

Pela minha experiência clínica, ainda posso acrescentar que pacientes que sofrem de compulsão alimentar recorrem periodicamente a dietas para emagrecer, perpetuando o ciclo de fatores precipitadores e mantenedores. Aliado à isso, a frustração por não conseguir mudar seu padrão alimentar e a manutenção dos fatores estressores na sua vida que conferem incoerência e falta de identificação consigo mesmo mantém a pessoa que sofre de compulsão presa nesse ciclo que parece interminável.


Quer se aprofundar ainda mais nesse tema? Veja alguns artigos que tomei como referência abaixo:


A boa notícia é que a compulsão alimentar pode ter um fim. Por ser um transtorno de cunho comportamental, ele pode ser tratado através de psicoterapia e, se necessário em casos mais graves, com apoio medicamentoso de um médico psiquiatra com experiência no tratamento de transtornos alimentares. O auto tratamento também pode ser realizado, desde que seguindo os critérios adequados e focando no que realmente importa, e sempre, sempre, passando bem longe de dietas para emagrecer.





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