Balão Gástrico Hipnótico: Mitos e Verdades
- Carol Avileis
- 6 de jun. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 28 de jun. de 2020
Não seria maravilhoso se nosso estômago simplesmente diminuísse de tamanho sem a necessidade de acionar o plano de saúde ou ser apta, dentro dos padrões médicos, a sofrer a cirurgia? Se ao invés disso, através de uma sessão de hipnose, o balão fosse colocado em nossa barriga, de forma hipnótica, e sentíssemos efetivamente nosso estômago menor? Assim comeríamos menos porque teríamos mais espaço na barriga disponível pra comida, certo?
Mais ou menos, depende. Essa é a resposta apropriada. Mas vamos começar falando sobre o que é o balão gástrico hipnótico.

Como o balão gástrico hipnótico funciona
O cliente chega no consultório, deita em uma cadeira reclinável. Fecha os olhos e passa por uma indução à hipnose, sendo guiado a um estado de foco e concentração pelo terapeuta. Em seguida, o terapeuta irá simular, através de sua fala, o procedimento de introdução de um balão gástrico. É narrada as partes (como se fosse uma endoscopia), e o paciente, através de engajamento na visualização proposta, vai vivenciando aquele processo como se fosse real. E, de certa forma, ele é: ele está acontecendo na sua mente. Quando instalado o balão, o terapeuta, através de sua própria técnica, ou em acordo com o cliente, enche o balão de modo a ocupar o percentual necessário do estômago do cliente, para que ocorra uma diminuição da fome. Em seguida, o terapeuta simula a retirada dos tubos e cânulas e depois dá algumas sugestões sobre uma alimentação saudável e a boa escolha de alimentos ao paciente. O terapeuta traz o cliente de volta do estado de foco e concentração (também chamado de transe) e pronto! Balão instalado.

Ao sair dali, o cliente pode ter algumas "tarefas" a fazer antes da alimentação (como fazer algumas respirações por exemplo) e pode ter alguma tarefa pra fazer depois da alimentação, para finalizar a refeição. O balão gástrico irá funcionar se o cliente esteve focado e engajado durante o processo de colocação e se ele ativamente decidiu que esse mesmo balão esteja instalado antes e durante cada refeição. A perda real de peso irá acontecer se o cliente comia por excesso de fome ou estômago dilatado, se a sugestão de balão gástrico for congruente com quem ele é e com o que ele quer, e se ele conscientemente tomar a decisão de usar a sugestão a cada vez que comer.

Aí entram minhas questões sobre o uso do balão gástrico hipnótico no emagrecimento.
Engordar é só um sintoma
Já escrevi um post sobre isso, veja aqui. Na grande maioria dos casos em que a pessoa não engorda devido a maus hábitos alimentares ou excesso de fome. Ela engorda porque tem aspectos emocionais ou psicológicos que a fizeram buscar na comida o alívio e o refúgio que precisava para lidar com as dores, os sofrimentos, as inseguranças, a solidão, o medo. As causas podem ser muitas, diversas, e, na maioria das vezes, estão fora da consciência do cliente. Se ele soubesse o que o leva a se manter comendo além do que precisa, aumentando sempre seu peso, ele estaria mais próximo de trabalhar em desarmar seus gatilhos. Dessa forma, se a pessoa come porque precisa de alguma forma lidar com suas questões emocionais e psicológicas, a instalação de um balão gástrico hipnótico tende a ter um resultado bem fraco. Muitas vezes, mesmo querendo, o cliente não realiza o acionamento das âncoras necessárias para o ativamente do balão antes e depois das suas refeições, parecendo que "esquece" ou "quando viu, já foi". Isso na verdade apenas retrata um mecanismo de defesa que foi acionado, juntamente com a resistência ao processo. E a partir daí pode-se trabalhar em terapia para trazer a tona conteúdos que ainda não foram trabalhados na pessoa.

Diagnóstico correto do cliente
Os casos que chegam para o terapeuta, de pessoas querendo emagrecer, são muitos e diversificados. O terapeuta precisa ser competente para identificar os sinais de transtornos alimentares (que não escolhem um tipo corporal, nem peso, nem idade), de vícios em alimentos específicos ou em alimentar-se em geral, de compensação de emoções, entre outras causas.
Dependendo do que foi identificado, as sessões e o tratamento devem obrigatoriamente seguir caminhos diferentes. O tratamento indicado pra quem tem vício em comida é totalmente distinto daquela pessoa que sofreu bullying quanto à sua forma corporal na infância. Se um protocolo de emagrecimento for aplicado em alguém que se enquadra dentro de Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica, por exemplo, irá piorar o quadro geral da pessoa e provavelmente causar mais motivos para que as crises de compulsão ocorram.
São poucos os profissionais realmente competentes no que se refere a identificar o melhor tratamento para o seu cliente. Para reconhecer algumas ciladas, coloco aqui alguns sinais de alerta.

Profissional é criador de um protocolo de emagrecimento (qualquer que seja seu nome)
Nenhum protocolo de emagrecimento irá abordar todos os casos que eu mencionei anteriormente. Dessa forma, o risco desse protocolo abordar um caso e fazer mal para todos os outros é enorme. Ele vai entrar para a lista de dietas e tratamentos mal sucedidos que reforçam a baixa autoestima da pessoa que busca emagrecer. Protocolo quer dizer um método, uma receita, com um processo terapêutico, que pode envolver acompanhamento de nutricionista, mensagens positivas, envolvimento em um grupo, gamificação. Não importa. A ideia será muito boa para um tipo de pessoa e péssima pra outra. O ponto é que não existe uma forma única ou minimamente ajustável para tratar diferentes pacientes que gostariam de emagrecer.

Profissional garante resultados infalíveis
É impossível o profissional garantir o emagrecimento em um determinado intervalo de tempo, ou a manutenção do peso. Se nem os médicos que dispõe de aparatos cirúrgicos e químicos (medicamentos) não prometem isso, quanto mais um profissional deve fazer isso. Como a alimentação é um comportamento necessário à sobrevivência, ela envolve sistemas primitivos de defesa e sobrevivência da nossa mente. Além disso, a alimentação é, na maior parte das vezes, parte de uma memória afetiva da pessoa, lembrando aconchego e conforto, remetendo à sua fase oral na infância. Isso tudo para que fique claro que são fatores complexos e de formação da personalidade de qualquer pessoa, e que devem ser tratados durante um processo terapêutico em busca do emagrecimento. A continuidade nesse processo, o engajamento da pessoa no processo e fatores ambientais irão influenciar diretamente no resultado do tratamento.

Profissionais que mostram fotos de antes e depois
As fotos de antes e depois são utilizadas como "testemunhos" que certo método ou protocolo dão certo. Se você leu até aqui, compreende que o que pode ser excelente pra um caso e dar excelentes fotos de antes e depois, pode não dar resultado ou dar um resultado insatisfatório no outro caso. Não só isso, mas a pessoa ter emagrecido e conseguir tirar a foto de antes e depois não quer dizer que o protocolo foi um sucesso. Ela pode ter entrado em um processo de transtorno alimentar, ou pode voltar a engordar tudo de novo depois, ou pode estar em sofrimento psicológico pra manter a perda de peso. O verdadeiro sucesso de um processo terapêutico está longe de ser medido pela balança. Está diretamente relacionado ao bem-estar e a retomada de confiança em si mesmo e no seu poder de tomar decisões e agir sobre sua própria vida. A perda de peso é uma consequência vista a longo prazo e de forma gradual, sem sofrimento, pressão e extremo autocontrole. As fotos de antes e depois são formas apelativas para chamar e seduzir clientes para comprarem um determinado protocolo. Não são mais nada além disso.
Profissional que promete resolver o problema em poucas sessões (e te diz em quantas)
O profissional te explica que quando se trata com hipnose, poucas sessões são suficientes e não é necessário um tratamento terapêutico mais profundo. Isso pode ser verdade quando se está falando de fobia, ou procrastinação, ou mesmo ansiedade. Mas lembre-se: engordar é um sintoma. Sintoma do quê? Dependendo dessa resposta (e do tempo que demorar para que a resposta seja encontrada), mais ou menos sessões podem ser necessárias. Da mesma forma que um protocolo (ou método) não será aplicável para todos os casos, o número de sessões necessárias para um processo terapêutico nesse caso também não pode ser prometido. Com certeza a terapia com hipnose é mais rápida que terapias sem hipnose, mas mesmo assim não podemos determinar o número de sessões.
Como medir o sucesso de um tratamento usando balão gástrico hipnótico?
Se peso não é medida de sucesso, se fotos de antes e depois não é medida de sucesso, se poucas sessões não são medida de sucesso, então o que é?
Você pode achar que seu problema é se aceitar como é (ou mudar como seu corpo é), parar de engordar, emagrecer até se sentir bem consigo mesma... Mas nenhum desses é realmente seu problema. Sua questão é que você não é dona do próprio destino. Não sente que pode determinar o que quer pra você ou pra sua vida, que a comida, a balança, a calça jeans, a foto, a pose... ou qualquer outra coisa determinam a forma como você se sente na própria pele. O tratamento de sucesso é aquele onde você sai sendo dona do seu próprio destino. Onde você é capaz de emagrecer comendo aquilo que seu corpo precisa, onde você olha na espelho e entende que seu corpo é seu canvas, e você pode escolher o que fazer dele, mas ele não te define, você é muito mais do que um corpo.
Então você não usa balão gástrico hipnótico?
Eu uso sim. Uso como aliado na terapia, dentro do processo terapêutico, quando faz sentido e quando a cliente entendeu tudo o que envolve o balão. Mas acima de tudo eu busco o sucesso (conforme minha definição acima) da sua terapia. :)
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