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  • Foto do escritorCarol Avileis

A Cultura da Perfeição e o Transtorno de Autoimagem

Atualizado: 19 de mai. de 2020

O transtorno de autoimagem, chamado do ponto de vista psiquiátrico de Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), é um distúrbio obsessivo-compulsivo que geralmente vem acompanhando distúrbios alimentares. A dismorfia de autoimagem é uma condição grave de saúde mental com consequências também muito graves. As pessoas que sofrem com distúrbios dismórficos do corpo estão preocupados com o que consideram defeitos ou falhas na sua aparência física. Elas acreditam que parecem feios ou anormais, ou ainda repulsivos e disformes. Essas falhas não são visíveis, ou são muito pequenas, para qualquer outra pessoa que observe o corpo dessa pessoa. O transtorno de autoimagem envolve pensamentos (como comparar a aparência de uma pessoa com outras) e comportamentos repetitivos (olhar no espelho, se pesar, apertar ou beliscar determinadas regiões do corpo).



O transtorno de autoimagem, no início do século XX, era chamado de dismorfofobia — ou medo patológico de ser ou se tornar deformado. A condição foi descrita pela primeira vez na literatura médica pelo psiquiatra italiano Enrico Morselli, em 1886. Quase um século depois, em 1980, a Associação Americana de Psiquiatria reconheceu a condição e a incluiu na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, o DSM. Hoje a condição está bem descrita e documentada na sua 5a. versão (DSM-V).


As preocupações e comportamentos de quem sofre transtornos de autoimagem tomam muito tempo e energia do seu dia. Envolve geralmente beliscões, apertos, pesagens excessivas e repetitivas ao longo do dia, passar tempo na frente do espelho e outras formas de controlar seu "defeito" percebido. Esses pensamentos e comportamentos repetitivos causam um grande sofrimento e disfunção na vida das pessoas que sofrem dele. Elas podem evitar contato social, como evitar de ir a festas, encontros e eventos sociais, usar roupas largas, cabelos longos, chapéus ou outra forma de esconder suas falhas percebidas. Também é muito comum que esse quadro evolua para uma evitação social completa, onde a pessoa não quer mais sair de casa, não por ficar ansiosa por estar entre pessoas, mas por julgar que todos estão observando essas "falhas" que ela entende tão grandes e chamativas no seu próprio corpo.



As pessoas que sofrem de dismorfia corporal geralmente procuram tratamento cosmético, como tratamentos de pele, dietas, exercícios físicos e/ou cirurgias, para tentar melhorar sua aparência. Em um estudo de pacientes com dermatologia com acne, mais de 11% apresentaram resultado positivo para distúrbio dismórfico corporal. Entre os pacientes que fizeram triagem positiva, eles passaram uma média de mais de duas horas por dia preocupados com a aparência. Outro estudo encontrou relação entre a anorexia nervosa e o distúrbio dismórfico do corpo, particularmente na extensão da insatisfação com o corpo. O distúrbio dismórfico corporal afeta homens e mulheres entre 15 e 35 anos de idade (na sua maioria) e geralmente começa na adolescência, quando os adolescentes podem ser particularmente vulneráveis ​​a influências sociais.



A mídia e as mídias sociais apresentam um constante lembrete para as pessoas acometidas de dismorfia corporal de suas imperfeições. Com o advento do uso de aplicativos e filtros para correção estética, fica cada vez mais artificial a forma como o corpo e a estética é publicada e divulgada online. Antes as pessoas se comparavam com pessoas famosas, mas hoje elas podem ter uma versão melhorada de si mesmas no próprio aplicativo do celular.


Esse transtorno pode surgir com qualquer evento que tenha sido usado para atingir a autoestima de alguém, como bullying no ambiente escolar, ou até mesmo em casa, em brincadeiras dentro da família. Existem famílias também onde a preocupação com a aparência é exagerada, e é passada para os filhos de forma e incutir neles percepções distorcidas de sua aparência física.



A estrela de Riverdale, Lili Reinhart, falou sobre sua experiência com transtorno dismórfico corporal em uma entrevista à revista Seventeen (veja link). Respondendo aos críticos, ela twittou: "Espero que este exemplo ajude a mostrar um problema significativo que está acontecendo hoje com meninos e meninas. É por isso que pessoas com problemas de saúde mental - depressão, distúrbios alimentares, dismorfias corporais - às vezes não recebam a ajuda de que precisam, porque têm vergonha e ficam quietas.


O distúrbio dismórfico corporal geralmente não é diagnosticado, porque muitas pessoas relutam em falar sobre seus problemas ou isso não é reconhecido pelo profissional de saúde. Os primeiros profissionais em contato com esse paciente geralmente são dermatologistas ou cirurgiões plásticos, que, na maioria dos casos, atendem pacientes em busca de procedimentos estéticos ou intervenções cirúrgicas para corrigir as “falhas” que eles imaginam possuir. Familiares, amigos e colegas podem ficam atentos para esse problema caso percebam comportamentos obsessivos-compulsivos, bem semelhantes a quem tem TOC (transtorno obsessivo-compulsivo, como lavar as mãos compulsivamente, ou fechar a porta 30 vezes)



Sintomas do transtorno dismórfico corporal

  • Preocupação patológica: o indivíduo mostra inquietação extrema com uma ou mais “falhas”. Elas podem ser reais (e imperceptíveis aos olhos dos outros) ou imaginárias.

  • Pensamentos obsessivos: a pessoa costuma pedir a opinião dos outros ou tentar convencê-los de que o tal defeito existe, também normalmente se compara com outras pessoas e se subestima.

  • Comportamento repetitivo: a pessoa com transtorno de autoimagem se olha no espelho várias vezes ao dia ou, em um único momento, por muitas horas. Na falta do espelho, usa qualquer superfície reflexiva, como celular, vitrine, etc.

  • Sofrimento exagerado: ter transtorno de autoimagem dói. Para disfarçar sua “falha”, o portador usa roupas largas, óculos escuros ou maquiagem pesada. Às vezes, evita sair de casa.

O tratamento normalmente envolve psicoterapia e medicamentos de uma classe de antidepressivos prescritos pelo psiquiatra. Enquanto a psicoterapia cria estratégias de enfrentamento gradual para situações de risco, como se olhar no espelho ou passear, a medicação ajuda a superar entraves como fobia social, ansiedade e síndrome do pânico. Dentro da psicoterapia, um processo de autoconhecimento e valorização da pessoa é o caminho mais recomendado para uma remissão da doença.



Referências:

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