Gordofobia médica: fique atento!
- Carol Avileis
- 27 de jun. de 2020
- 3 min de leitura

Na faculdade de medicina e nutrição, os futuros profissionais ouvem tanto dos perigos causados pelo excesso de gordura no corpo e como a obesidade é um importante fator de risco para doenças não transmissíveis, que perdem a noção da ética profissional.
Pensando nisso, em março desse ano, foi publicado um Artigo de Consenso pela Nature Medicine, assinado por mais de 100 associações ao redor do mundo, incluindo a brasileira Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Esse artigo se baseou em uma análise de dados bibliográficos dentro de alguns critérios, realizado por 36 profissionais multidisciplinares de 9 países diferentes, buscando a resposta para algumas questões importantes sobre o estigma do peso e a gordofobia. Esse post vai ser totalmente baseado nas conclusões desse artigo, que você encontra na íntegra aqui. Você já leu o post Gordofobia e Estigma do Peso causam obesidade?
Como acontece a Gordofobia médica?

De acordo com o estudo publicado, as evidências sugerem que os médicos gastam menos tempo em consultas e explicam menos sobre saúde aos pacientes com obesidade se comparados a pacientes mais magros. Pacientes reportam ter sofrido discriminação por causa do seu peso no sistema de saúde tem um tratamento menos compreensivo e cuidadoso que pacientes mais magros, além de evitar procurar ajuda médica no futuro devido ao constrangimento sofrido por serem obesos. Esse vídeo do canal Alexandrismos ilustra bem isso.
A obesidade tem impactado negativamente na rotina médica preventiva (por idade) para câncer, o que leva ao atraso no diagnóstico de cânceres de mama, de colo de útero, de intestino e do aparelho reprodutivo em geral.


Obesidade médica comprovada no estudo da Nature Medicine

Uma análise temática de 21 estudos examinou as percepções da gordofobia e seu impacto no envolvimento com os serviços de saúde (hospitais, clínicas, planos de saúde, médicos e enfermeiros). As influências negativas que a gordofobia médica trouxe já na atenção no primeiro atendimento foram avaliadas e foram identificados dez temas:
Tratamento desdenhoso condescendente e desrespeitoso;
Falta de treinamento;
Ambivalência;
Atribuição de todos os problemas de saúde ao excesso de peso;
Premissas sobre ganho de peso;
Barreiras à utilização dos cuidados de saúde;
Expectativa de tratamento diferente no atendimento;
Baixo nível de confiança e falta de comunicação;
Atraso ou incapacidade de utilização dos serviços de saúde;
Busca de aconselhamento médico de vários profissionais de saúde.

Por que existe a gordofobia médica?
A suposição generalizada, mas não comprovada, de que o peso corporal é totalmente controlável pelas escolhas de estilo de vida e que os esforços da própria pessoa podem reverter formas severas de obesidade ou diabetes tipo 2, podem explicar o baixo nível de apoio público à cobertura de intervenções anti-obesidade além da dieta e exercício, independentemente de sua base de evidências.
Por exemplo, muitos planos de saúde não oferecem cobertura ou têm limitações substanciais na cobertura da cirurgia metabólica (bariátrica), incluindo o preenchimento de vários critérios para os quais existem evidências clínicas limitadas ou inexistentes.
Essas atitudes estão em forte contraste com a cobertura do tratamento para outras doenças crônicas (por exemplo, câncer, doenças cardíacas e osteoartrite) que não estão condicionadas a restrições semelhantes e para as quais o uso de critérios de cobertura arbitrários seria socialmente indefensável e eticamente censurável.

Recomendações do estudo para o atendimento no sistema público e privado de saúde
Recomendações do documento Join International Consensus Statement for ending stigma of obesity, publicado em 04/03/2020.
"Instituições acadêmicas, órgãos profissionais e agências reguladoras devem garantir que o ensino formal sobre as causas, mecanismos e tratamentos da obesidade sejam incorporados nos currículos padrão para residentes médicos e outros profissionais de saúde.
Os profissionais de saúde especializados no tratamento da obesidade devem fornecer evidências de habilidades práticas livres de gordofobia. Os órgãos profissionais devem incentivar, facilitar e desenvolver métodos para certificar o conhecimento da gordofobia e seus efeitos, juntamente com habilidades e práticas livres de preconceito.
Dada a prevalência de obesidade e doenças relacionadas à obesidade, a infraestrutura apropriada para o atendimento e o manejo de pessoas com obesidade, incluindo obesidade grave, deve ser um requisito padrão para o credenciamento de instalações médicas e hospitais."

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